A direita sem maquiagem e a ação política da esquerda no poder

Por Pedro Muxfeldt

Em texto divulgado hoje em seu blog, o jornalista Breno Altman defende que as ações pós-eleitorais de Aécio e seguidores apontam para uma reinvenção da direita no país. Seria uma "direita sem maquiagem", que não pretende mais se abrigar sob o discurso centrista que deu o tom das campanhas de Serra e Alckmin e, em parte, também esteve presente na última corrida presidencial.


Por outro lado, tal estratégia da direita estaria ligada à tentativa de enfraquecimento do poder do lulismo entre os pobres do campo e da cidade via ataques ao projeto petista posto em prática desde 2003.


Neste sentido, conclui Altman, PSDB e congêneres caminhariam para a formação de um bloco neoconservador nos moldes do Tea Party norte-americano, que vem dando as cartas no Partido Republicano, e da Frente Nacional francesa, grupo de extrema-direita comandado por Marine Le Pen.

Como o próprio autor sugere, tal movimentação deveria merecer uma análise mais aprofundada do PT e das esquerdas. Sem a pretensão de encerrar aqui este debate, passemos a uma sugestão sobre a linha de ação que a esquerda no poder deveria tomar tendo em vista o novo quadro político apontado.

Antes de mais nada, se faz necessário observar as respostas dadas nos Estados Unidos e na França para o surgimento dos dois movimentos citados. E aqui o aprendizado brasileiro deve ser sobre o que não fazer.

Na França, o Partido Socialista do presidente François Hollande, eleito em 2012 com a esperança de ser o contraponto à mão de ferro da alemã Angela Merkel no tratamento da crise na União Europeia, capitulou e o receituário neoliberal passou a ser aplicado. Os socialistas cortarão R$ 65 bilhões em gastos até 2017, com o congelamento de aposentadorias e outras reduções de direitos dos trabalhadores.

Já nos Estados Unidos, o crescimento do Tea Party, aliado a maioria republicana na Câmara, deixou Obama imóvel. Nos últimos dois anos, o presidente teve diversos projetos negados pelo Legislativo e não demonstrou ímpeto de conduzir mudanças no país através do enfrentamento político das forças mais reacionárias.

As lições são inequívocas. Para enfrentar uma direita que age e se articula desde a derrota nas urnas, é necessário coragem para conduzir as ações pelas quais Dilma recebeu o voto de confiança de 54 milhões de brasileiros.

Diferente do que Altman enxerga na nova direita, que estaria tentando enfraquecer a ligação do governo com os pobres, seu palavrório contra a corrupção parece fadado a cativar apenas setores das classes média e alta.

Para a grande maioria da população, o que conta é a defesa do emprego e as políticas de transferência de renda, que precisam, a partir de agora, vir acopladas de políticas de geração de oportunidade, como aprofundamento do Pronatec e crescentes investimentos em educação.

É urgente que o PT e as demais forças de esquerda no poder, desde já, tomem a frente nesse processo, disputem as ruas com a direita na defesa do legado de Lula e do novo ciclo de mudanças proposto por Dilma para que a direita sem maquiagem tenha as suas reais feições expostas para todos.

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