"Apoiar o PMDB em 2016 será o fim do PT no Rio de Janeiro"; Robson Leite fala ao Trocando Ideia

Deputado busca aliança entre PT e PSOL para eleições para prefeito em 2016
Por Pedro Muxfeldt

O deputado estadual Robson Leite não conseguiu se eleger no pleito de 2014. Porém, o petista tem grandes planos para os próximos dois anos. Um dos maiores promotores da separação entre o PT e os governos do PMDB no estado, ele defende a construção de um projeto de esquerda para a disputa da prefeitura em 2016 e o apoio do seu partido ao nome de Marcelo Freixo, do PSOL, como cabeça de chapa.

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Para isso, será preciso um longo processo dentro do Partido dos Trabalhadores, ainda aliado ao governo de Eduardo Paes, e disposição do PSOL em compor um arco de alianças que conduza a esquerda à vitória na segunda maior cidade do Brasil, argumenta Robson.

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Além das perspectivas para a corrida à prefeitura, o político comentou os fracos resultados eleitorais do PT nas eleições fluminenses, a possibilidade de Alessandro Molon concorrer em 2016 e o crescimento do antipetismo no Rio de Janeiro. Confira a entrevista exclusiva do Trocando com Robson Leite a seguir.

O que explica o mau desempenho do PT na eleição para governador no Rio de Janeiro?

Depois de anos sendo satélite do PMDB, o PT perdeu legitimidade para criticar o governo Cabral/Pezão. Se o Lindberg tivesse feito a pergunta "onde está o Amarildo?" para o Pezão no debate, o governador podia ter respondido "pergunta para o secretário de Assistência Social, que é dos seus quadros". Além disso, foram cometidos muitos erros na campanha, que não esteve próxima de deputados como eu e Nilton Salomão, que sempre nos posicionamos contra a aliança com o PMDB. É sintomático que todos os deputados estaduais que elegemos estejam ligados a máquinas municipais.

E o que o partido precisa fazer nos próximos anos para recuperar sua legitimidade?

O PT precisa reencontrar sua identidade perdida. Nós perdemos muito orbitando em torno do PMDB e precisamos construir novamente um projeto de esquerda, se desvinculando do PMDB. Esses sete anos foram muito prejudiciais ao partido. O PT não nasceu para compor projeto de centro-direita, a definição é ideológica. Precisamos ser um governo de esquerda que faça concessões ao centro em busca de governabilidade, como acontece no plano nacional.

O partido aprovou que será oposição ao governo Pezão. Qual a importância dessa decisão?

Essa vitória no diretório estadual foi muito importante e precisa ser mantida, pois nos deu a oportunidade de construir um novo projeto, com novas alianças. Todos os petistas estão proibidos de assumir cargos na gestão estadual. Por outro lado, isso gera de imediato uma contradição enorme no município, onde continuamos no governo Eduardo Paes.

O que fazer, portanto, no plano municipal?

O primeiro passo é abandonar a prefeitura. Paes é muito melhor que Cabral e Pezão, mas a identidade de centro-direita e a lógica de submeter o interesse público aos interesses privados são iguais. A gente precisa se descolar até em respeito ao prefeito, que deve montar seu secretariado pensando em 2016, pois nós não estaremos com ele na eleição. Mas a fragilidade é grande, a base petista tem clareza de que devemos sair do governo, mas boa parte de quem está no diretório não.

Qual o prazo para que o PT deixe o governo Paes?

Ainda há tempo para construir uma identidade de esquerda, mas precisamos sair das secretarias o mais rápido possível. Não é o Adilson (Pires, vice-prefeito), são os cargos. Deixar o governo Eduardo Paes é a sobrevivência do PT. Apoiar o PMDB em 2016 é o fim do partido na capital. Avalio que corremos o risco de não eleger nenhum vereador. Vamos ser dizimados nas eleições se continuarmos com o PMDB.

Marcelo Freixo é nome preferido para aliança
Em busca de um projeto de esquerda, é viável uma união entre PT e PSOL para disputar a prefeitura em 2016?

Vou batalhar incansavelmente para que o PT debata um projeto de esquerda que culmine no apoio à candidatura do deputado Marcelo Freixo em 2016. Temos condições de avançar nesse sentido, mas não vai ser fácil pelas contradições dentro do PT. Também não sei como o PSOL está pensando isso. O fundamental agora é constituir forças à esquerda e formatar um projeto. O arco de alianças vem depois, assim como o nome de quem melhor encabeça esse projeto, que hoje é o Marcelo.

Qual o papel que o PSOL vai desempenhar nesse processo?

O PSOL terá a grande responsabilidade de aglutinar as forças de esquerda em 2016. Ele precisa decidir se quer governar a cidade ou só eleger parlamentares. Acredito que há espaço para esse debate no PSOL pelos bons quadros que tem, inclusive o Marcelo, que eu sei que não quer disputar as eleições para marcar posição, mas para vencer. Agora, se o PSOL não tiver maturidade para compreender que podemos decidir a eleição nessa aliança, o PT pode caminhar para uma candidatura própria.

Quem seria o nome mais indicado no PT para concorrer?

Já tem gente declarando voto no Adilson, mas ele não é o nome certo, está muito vinculado ao PMDB. O favorito hoje é o Molon (Alessandro Molon, deputado federal), que teria legitimidade inclusive para reconhecer os avanços do governo Paes e apontar os erros de implantação das políticas do governo federal. O Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, que foi aplicado para realizar remoções aqui no Rio. Talvez o PSOL não tenha condições de fazer essa análise.

Duas candidaturas de esquerda não poderiam ser prejudiciais para esse projeto que você vem falando?

Com certeza. Avalio que o Pedro Paulo vai deixar o PMDB para concorrer à prefeitura já que o Picciani não vai abrir mão de lançar a candidatura do filho dele (Leonardo Picciani, deputado federal) no partido. O Romário também deve concorrer. Nesse cenário, Freixo e Molon concorrendo iria atrapalhar muito, dividiria os votos à esquerda.

Aliança com PMDB atrapalhou partido e cresceu sentimento antipetista
O sentimento antipetista parece muito forte no Rio tanto à direita quanto à esquerda. Como reverter esse quadro?

Acho que esse sentimento é maior onde o partido esteve vinculado a projetos de centro-direita. Bahia e Minas Gerais são exemplos de construções de projetos à esquerda que deram certo nas últimas eleições. É o que devemos fazer aqui no Rio, recuperando o voto de opinião, que hoje migrou para o PSOL. A gente trata o antipetismo saindo rápido do governo Paes.

Dissem que manter a aliança com o PMDB seria necessário devido à união no plano nacional. O que acha disso?

Isso é mentira. O projeto nacional não será alterado por causa de uma disputa estadual, que dirá municipal. Também não faz sentido relacionar nossa aliança aqui com a candidatura de Eduardo Cunha (deputado federal do PMDB) a presidente da Câmara. Nós temos que ter cuidado é com a base que está de saco cheio do PT do Rio ser um partido fisiológico, da boquinha. Temos que reconstruir nossa identidade.

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