O que explica os sons eletrônicos de pássaros no metrô do Rio?

Quem passa despercebido, o metrô e seus pássaros ou a vida?

Por Leonardo Rachid

Uma rápida descida aos subterrâneos da cidade do Rio de Janeiro nos brinda com o anúncio de uma desgraça. Intervalando-se com uma repetitiva bossa nova de elevador, sons eletrônicos de pássaros podem ser ouvidos através dos amplificadores de algumas estações do metrô carioca.

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Não é só a descaracterização do som que salta aos ouvidos. Nem somente o fato de os cantos serem sempre os mesmos, sem carregar sequer um fio de originalidade e improviso, daqueles ouvidos apenas na presença das mais sinceras aves.

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O incômodo reside principalmente na redução da natureza a um reles arquivo mp3, ato de quem tenta subordinar o mundo externo ao frio cotidiano corrido, como se esse combate sequer fosse razoável ou justo.

O que está acontecendo? Assinou finalmente a sociedade seu atestado de óbito? Ou é simples ferramenta de conformação da massa? Transformado em cacofonia o confortável som da natureza, estariam os trabalhadores sendo forçados a se adequar às entranhas da selva de pedra que porcamente busca um disfarce adequado? Ou já não se importam?

Em meio a caixas eletrônicos, relógios de pulso e restaurantes self-service, frontes preocupadas distribuem ansiosos passos pelas ruas da cidade portando seus celulares inteligentes, os antolhos do homem contemporâneo. Enquanto isso, árvores, ares e seres carecem de olhares e admiração e acabam, dia após dia, perdendo cor e sabor.

Faz-se muito necessário parar e respirar. Poucos segundos de descanso em um conturbado cotidiano podem trazer cor a muros e calçadas que, comumente, não chamam atenção. Se soubermos admirar a riqueza que nos cerca – não obrigatoriamente a natural – o tom de sépia dos olhos dá lugar a um colorido que nenhuma cifra ou aparente conquista pode substituir. Nosso dia a dia está nos matando e isso não é inteligente.

Tampouco é sábio tornar-se ermitão e desistir da cidade grande, longe disso. Contudo, em nome do desequilíbrio natural que há em todo equilíbrio, é preciso romper com os moldes criados para o trabalho e dar tempo ao espaço. Por uma sociedade que vire mais seus pescoços e derrube mais seus queixos, em nota de admiração ao mundo. Saibamos amar do verde ao metal, do cinza à madeira e poderemos nos dedicar à arte que é viver em paz.

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