A privataria continua no Maracanã: consórcio lucra três anos em 2014

Consórcio só vai pagar 16% do valor do estádio ao governo do Rio
Por Pedro Muxfeldt

Privatizações escandalosas dos bens públicos aos moldes das praticadas durante o governo FHC, fartamente documentadas no livro Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr, não deveriam mais ter espaço em nosso país. Mas o governo do Estado do Rio, de Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão, não entende desta maneira.


Em meados do ano passado, a administração pública passou o controle do estádio do Maracanã para um consórcio comandado pela construtora Odebrecht pelos próximos 35 anos logo depois de fazer uma reforma que consumiu mais de R$ 1 bilhão dos cofres públicos.


Por outro lado, o contrato prevê que o ressarcimento que o Estado receberá pela concessão vai ser de apenas R$ 181,5 milhões, divididos em 33 parcelas anuais de R$ 5,5 milhões. Ou seja, o poder público entregou para a iniciativa privada uma praça esportiva novinha em folha e a empresa só vai pagar 16% do seu valor ao governo.

Como em todo modelo neoliberal, o governo do Rio, além de socializar os prejuízos, atua para garantir a privatização dos lucros. Foi assim na relação com a Maracanã SA. Somente com os 70 jogos de campeonatos nacionais realizados em 2014, o consórcio faturou R$ 16.407.188,33. Isso significa que as partidas deste ano garantiram o pagamento de três anos de ressarcimento.

Os lucros enormes obtidos pela concessionária se explicam pelos altos custos impostos aos clubes. Na semifinal da Copa do Brasil contra o Atlético-MG, o Flamengo teve que pagar mais de R$ 500 mil apenas de aluguel do estádio. Já o Vasco, no duelo com o Icasa que lhe garantiu o acesso à Série A, alugou a arena por R$ 435 mil.

Somados aos R$ 300 mil em cada jogo pelo "custo operacional do estádio", despesa assim descrita nos boletins financeiros, a empresa embolsou R$ 1,5 milhão apenas nas duas partidas mais rentáveis da temporada.

Quase três anos sem o estádio, que reabriu descaracterizado, sem sua tradicional monumentalidade, ingressos caros na maioria dos jogos e alimentação de baixa qualidade e preços elevados. Esse é o legado da reforma do Maracanã para o torcedor carioca. Para o Consórcio Maracanã, muito dinheiro no bolso. A privataria está mais viva do que nunca no Rio de Janeiro e ainda restam 33 anos de um contrato criminoso com lucros a perder de vista para os novos donos e pouco retorno à população. 

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