A cara de pau de Marina e o telhado de vidro de Dilma sobre os bancos

Adversárias esqueceram suas campanhas em guerra de declarações


Por Pedro Muxfeldt

Ontem, Marina criticou a política econômica do atual governo e afirmou que Dilma criou "o bolsa empresário, a bolsa banqueiro, a bolsa juros altos". É inegável que nos 12 anos do PT no poder os bancos registraram seus maiores lucros e que as taxas de juros praticadas na gestão Dilma (hoje em 11%) estão muito elevadas, o que beneficia banqueiros, empresários e especuladores de toda sorte.

Contudo, a ligação visceral de Marina com Neca Setúbal, herdeira do Itaú e coordenadora de seu programa de governo, e suas propostas para a área econômica que, se aplicadas, reimplantariam o receituário neoliberal de desemprego, arrocho salarial e perda de direitos trabalhistas tornam o discurso na boca da candidata apenas conversa mole de campanha.

Ato contínuo à fala da adversária, Dilma rebateu: "não tenho banqueiro me apoiando, me sustentando". Vista como altiva e corajosa pelos apoiadores da presidenta, a resposta é uma casca de banana. 

Isso porque há bancos sustentando sim sua candidatura. Na prestação de contas da campanha constam R$ 3 milhões doados pelo Bradesco e R$ 1,55 milhão pelo Safra e R$ 8,25 milhões pelo BTG Pactual, de André Esteves.

Aliás, este último por pouco não quebrou também a primeira parte da frase de Dilma. Após ter obtido crescimento gigantesco de receitas durante o governo Lula, Esteves afirmou que o país vivia seu melhor momento na História. Em seguida, aliou-se à Caixa no resgate ao Pan-americano. Nas palavras de alguns, era um banqueiro-amigo.

A relação entre as partes ruiu em outubro quando o BTG, que tem o economista Pérsio Arida, integrante da equipe de FHC, como homem forte, promoveu seminário em Nova York com a presença de Aécio Neves e ataques frontais às ações do governo na área, o que não impediu o milionário aporte por Esteves à campanha de Dilma.

A resposta dada à Marina foi boa, mas não se sustenta. Teria sido melhor se a presidenta tivesse levado o debate para o campo das ideais e lembrado que mais do que saber quem a meia dúzia de componentes da banca apoia é saber quem governa para os milhões de cidadãos que não têm um banco para chamar de seu.

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