Durante as décadas de 1970 e 1980, os governos de Argentina, Brasil, Chile e Uruguai deram as mãos para combater grupos guerrilheiros de esquerda. Sob o guarda-chuva da CIA, a Operação Condor fez sangrar os filhos deste solo. Durante os anos de trevas das ditaduras militares, a cooperação latino-americana se restringia a isso. Ceifar vidas, calar opositores e destruir sonhos.
Décadas depois do pesadelo, o cenário é inverso. Ex-guerrilheiros presidem Brasil e Uruguai e a união entre os países do bloco passou a ser uma aliança da paz, da valorização dos direitos humanos e da memória de povos aviltados por séculos.
Ontem, no Dia dos Direitos Humanos e da entrega do relatório final da nossa Comissão da Verdade, a presidenta argentina, Cristina Kirchner, enviou carta a Dilma saudando os trabalhos e anunciando que a CNV será condecorada com o prêmio Emilio Mignone nesta quinta-feira, em Buenos Aires.
Chega de homenagens a generais torturadores, chega de silêncio perante os mortos e desaparecidos, chega de mães e avós à espera de filhos e netos por décadas, chega da opressão interna e externa que tanto nos assolou e nos tomou desde as mais remotas eras.
Com as vitórias de Evo, Dilma e Tabaré neste ano, é hora de a América Latina seguir se afirmando no cenário internacional e, mais importante, se enxergar como um corpo só, que deve buscar resolver seus problemas comuns o mais unido possível.
O slogan do governo argentino é 'temos pátria'. E ele vale para cada país do bloco. Temos pátria, somos a pátria. Grande como os nossos sonhos de união, igualdade e justiça social. Grande como a nossa certeza de que os tempos sobrios em que o Condor pairava ameaçador sobre os Andes não mais voltarão.
Confira aqui a íntegra da carta de Cristina a Dilma e a tradução logo abaixo:
"Querida companheira e amiga Dilma,
"Não quero deixar passar o Dia Internacional dos Direitos Humanos sem parabenizar a presidenta do querido povo brasileiro, o dia em que se conheceu o relatório da Comissão Nacional da Verdade, que você valentemente instituiu há três anos com a tarefa de desvelar e esclarecer as violações aos direitos humanos cometidas durante os escuros anos da ditadura.
"Faço isso com a convicção de que a promoção e vigência do direito à verdade é um pilar fundamental para seguir consolidando nossas democracias.
"Amanhã, a CNV será humildemente homenageada em meu país com o prêmio internacional Emilio Mignone. Que esse gesto seja mais um no longo caminho empreendido para fortalecer a eterna irmandade entre nossos países, a partir de esforços conjuntos, para que juntas possamos dizer 'Nunca mais' às afrontas à democracia que sofreram nossos povos a partir da violação sistemática dos direitos humanos.
"Com o afeto de sempre,
CFK"
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