A partir de 2015, o Brasil terá o Congresso mais conservador desde a redemocratização e uma sociedade ansiando pelas reformas estruturais há muito necessárias e postergadas. É em meio a essa dessintonia que Dilma assumirá em 1º de janeiro. É este seu grande desafio de governo, que abre a nova série do Trocando Ideia.
Para analisar o que o governo precisa fazer para enfrentar um Congresso refratário a mudanças e o PMDB que emerge das urnas como força de oposição, o blog conversou com o cientista político, Rudá Ricci, diretor do Instituto Cultiva.
Confira a conversa com o cientista político abaixo.
Quais os movimentos no campo da articulação política que o governo deve fazer neste segundo mandato da presidenta Dilma?
É preciso entender que, nesta eleição, o PT consolidou um movimento iniciado em 2006 de migração da sua base eleitoral para as camadas mais pobres do Nordeste, justamente o eleitorado tradicional do PMDB. É certo que o PMDB não vai deixar isso barato e, apesar de ter o vice-presidente, deve fazer oposição ao governo pelos próximos quatro anos.
Como Dilma e o PT devem lidar com um PMDB na oposição?
Essa nova postura do PMDB ficou clara com a derrubada do decreto 8243 (Política Nacional de Participação Social). Foi um tiro no pé do PMDB porque já delimitou sua postura para o segundo mandato antes mesmo do início da próxima legislatura. De agora até abril, mês em que acontece o maior número de ocupações de terra e greves de trabalhadores, Dilma vai agir com mão pesada no encaminhamento de pautas que marquem com clareza base aliada e oposição no Congresso. Com isso, vai buscar colar a pecha de elitista naqueles que se opuserem às reformas colocadas em pauta pelo governo. Por outro lado, o governo deve buscar novos parceiros para aliviar a perda do PMDB.
Quais seriam esses novos parceiros?
Em primeiro lugar, o PT deve sondar quais as intenções do PSB para os próximos anos e tentar trazê-lo de volta para o governo. Eduardo Campos era um nome natural para rivalizar com o PT em 2018 e sua morte enfraquece os socialistas. Com mais de 30 deputados, seria uma boa opção para reduzir a força do PMDB. Outro movimento que deve ser feito é buscar uma aproximação com o PSOL. Nem tanto pelo tamanho da bancada, mas pela sua articulação com movimentos sociais, que serão importantes como forma de pressão sobre o Congresso pela aprovação das reformas necessárias.
Como trabalhar esse novo arranjo de uniões a partir de 2015?
O primeiro mandato de Dilma foi péssimo no campo da articulação política. A dobradinha Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann (secretária de Relações Institucionais e ministra da Casa Civil, respectivamente) fracassou completamente. Em 2012, por exemplo, houve mais liberação de dinheiro em emendas parlamentares para o DEM do que para o PDT, da base aliada. É necessário que o PT transporte o grande trabalho executado durante a campanha para dentro do governo neste segundo mandato.
Por que você considera a campanha da presidenta Dilma um grande trabalho?
A campanha de Dilma este ano foi um marco das eleições no Brasil. O profissionalismo e a análise de dados foi elevada a um outro patamar. A equipe dela tinha todas as informações na mão e jogou com isso para vencer o pleito. Antes da votação do primeiro turno, o PT já tinha desenhado todo o cenário de disputa com o Aécio, desconstrução com base na sua vida pessoal e especialmente no caso de violência contra a mulher. Já imaginavam, inclusive, a vitória por três pontos percentuais. É o grupo que comandou a campanha que Dilma precisa levar para o governo.
Quais seriam os nomes que devem ganhar força nesse momento?
Muito tem se falado de Miguel Rossetto e Aloizio Mercandante, mas não acredito que eles aumentem seu tamanho no governo. Para mim, os grandes responsáveis pela vitória de Dilma foram João Santana e Franklin Martins, especialmente o último. Martins deve ganhar peso na articulação política a partir de 2015. Talvez não receba um cargo oficial, mas deveria comandar as ações do governo no segundo mandato.
Como você enxerga o discurso da mídia sobre a necessidade uma união nacional após a eleição acirrada?
Isso é uma ideia sociológica americanizada que não tem muita correlação com a realidade do jogo político. Em política, você só negocia com quem tem peso. Com os demais, o mais forte impõe sua vontade. Não faz sentido exigir que o governo abra diálogo com todas as forças políticas do país devido ao resultado apertado da eleição.
Acompanhe o Trocando Ideia também no Facebook.
Nenhum comentário:
Postar um comentário