E os 364 dias de consciência negra, feminina, social?

Só um dia de consciência negra não basta

Por Pedro Muxfeldt

Alguém desinformado que olhasse o Facebook e demais redes sociais nesta quinta-feira corria o risco de acreditar no mito da democracia racial no Brasil. De políticos e celebridades a anônimos, o que se via era celebração em conjunto da cultura negra pelo feriado de Zumbi. Músicas, fotos, frases compartilhadas à exaustão.

A ação não é nova e pode ser explicada pelo narcisismo que se exacerba ainda mais em tempos de valorização de likes e compartilhamentos. Contudo, a atitude esconde uma lógica mais perversa.

Ainda que haver um Dia da Consciência Negra tenha sua importância como momento para promoção de atos públicos (o da foto é do MTST, na praia do Leblon) e para colocar o tema como centro da pauta nacional, boa parte dos eventos e, principalmente, discursos sobre o tema são fruto de um engajamento envernizado que muitas pessoas tentam transmitir no ambiente virtual.


A luta pelo direitos dos negros - assim como das mulheres, pobres, indígenas, homossexuais - de tão aviltados ao longo dos séculos não pode ser feita apenas uma vez por ano. Ela é uma construção diária e que vai muito além de uma bonita publicação no Facebook. Só se alarga a cidadania com política pública efetiva e contínua.

Há motivos para comemoração. Os dados divulgados recentemente sobre o aumento vigoroso da presença de negros em universidades públicas e privadas mostra um caminho de maior igualdade sendo trilhado na última década.

Por outro lado, os salários seguem mais baixos, os empregos mais precarizados e os absurdos 77% de jovens negros que compõem as listas de homicídio no país precisam ser enfrentados de peito aberto.

Isso para ficar apenas nos números já que o racismo cotidiano, os olhares tortos, os xingamentos ao goleiro Aranha e a grita anti-pobre disparada durante a campanha eleitoral são os problemas mais profundos que precisam ser resolvidos.

Que o dia da consciência negra (e também feminina, social e por aí vai) seja hoje, amanhã e depois. 364 dias na luta pela real cidadania, por mais direitos e um futuro melhor no horizonte, com ou sem canções de Bob Marley e Candeia aparecendo nas linhas do tempo.

Acompanhe o Trocando Ideia também no Facebook.

Nenhum comentário:

Postar um comentário