Eleições nos Estados: RS tem duelo de lideranças do PT contra jornalistas

Tarso Genro e Olívio Dutra encaram dupla de jornalistas da RBS

Por Pedro Muxfeldt


O Trocando Ideia inicia hoje a série Eleições nos Estados. Ao longo da semana, vamos divulgar entrevistas feitas com cientistas políticos sobre o cenário eleitoral em unidades da federação fora do eixo Rio-São Paulo que, apesar de receberem menor espaço na cobertura da imprensa nacional, ajudam a explicar o quadro político do país e correspondem por cerca de 25% do eleitorado.

Abrindo o especial, vamos ver como está o pleito no Rio Grande do Sul, onde duas lideranças históricas do PT lutam contra dois jornalistas de carreira extensa no Grupo RBS, braço da Globo no estado. Além disso, sondamos as intenções de voto para presidente entre os gaúchos e a tentativa de realização de um feito inédito na disputa para governador. O entrevistado é o cientista político Rafael Madeira, coordenador do Centro Brasileiro de Pesquisas em Democracia da PUC-RS. Confira.


Por que o atual governador Tarso Genro (PT) está encontrado dificuldades para sua reeleição e atualmente encontra-se em empate técnico com a senadora Ana Amélia (PP)?

No Rio Grande do Sul, podemos observar que o PT costuma sempre partir de algo em torno dos 30% dos votos. Junto a isso, há também um forte antipetismo no estado, que corresponde a outro terço do eleitorado, impondo limite ao desempenho de Tarso. Por outro lado, Ana Amélia é uma candidata muito competitiva, bastante conhecida e que tem ao seu lado o partido mais estruturado do Rio Grande do Sul, dono do maior número de prefeitos e vereadores. Por fim, não se pode esquecer que nenhum governador conseguiu reeleger-se para o cargo no estado desde a redemocratização.

Diz-se que o PT nacional poderia se manter neutro num segundo turno entre Tarso e Ana Amélia para não dar espaço nos palanques do estado para Marina Silva. Isso é factível?

Acho pouco provável porque Ana Amélia, apesar de integrar a base aliada ao governo federal, é crítica ao PT. Além disso, PP e PT têm tradição de disputa no Rio Grande e a campanha de Tarso foi estruturada para colar sua imagem à da presidenta Dilma e também comparar Ana Amélia com a ex-governadora Yeda Crusius.

Nas presidenciais, Dilma tem 42% das intenções de voto contra 21% de Marina e 20% de Aécio. O que explica o desempenho acima da média nacional da presidenta no Rio Grande do Sul?

Algumas ações do governo federal promoveram um desenvolvimento expressivo do estado nos últimos anos, especialmente com relação à revitalização do pólo naval e o incentivo à agricultura familiar. Além disso, Dilma, apesar de não ser gaúcha, fez carreira no estado. Atuou na primeira prefeitura de Porto Alegre durante o regime militar e foi secretária de estado de Olívio.

Por outro lado, Marina Silva está abaixo de sua intenção de votos nacional no Rio Grande do Sul. Por que?

Marina é uma figura histórica do PT, então enfrenta a rejeição dos antipetistas. Para além, ela, dentro e fora do PT, teve atuação forte na questão ambiental e entrou em confronto com o agronegócio, que é um setor de muita força, que mobiliza muita gente no estado. Ela está tentando quebrar essas resistências através da ação do deputado gaúcho Beto Albuquerque, seu vice, mas esta bandeira está colada nela.

No Senado, Olívio Dutra (PT) e Lasier Martins (PDT) estão tecnicamente empatados. Quem tem o favoritismo para levar a vaga?

O equilíbrio de forças mudou com a saída de Beto e a entrada de Pedro Simon na disputa. Com Beto, a centro-esquerda, da qual faz parte Olívio, tinha dois candidatos para dividir seus votos, o que ajudava a candidatura de Lasier. Já com Simon, que tem posições mais de centro, a tendência é ele ganhar eleitores de Lasier, favorecendo Olívio. Além disso, o petista é uma figura histórica no estado, já foi governador, enquanto o candidato do PDT, ainda que um jornalista bastante conhecido, nunca passou pelo crivo das urnas, o que pesa muito em disputas acirradas.

O PT disputa estas eleições com Tarso Genro e Olívio Dutra, duas lideranças históricas do partido. É possível denotar que o PT gaúcho tem dificuldades para renovar seus quadros?

Não diria isso. O PT tem integrantes que tem ganhado projeção nos últimos anos. E esta eleição me parece que marcará uma mudança geracional no PT gaúcho. Enquanto o ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, está deixando a vida pública, vemos nomes como Jairo Jorge, atual prefeito de Canoas, despontando e apto a tomar as rédeas do partido no futuro.

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