Eleições nos Estados: Comoção por Campos dá o tom em Pernambuco

Morte de Campos deu força para candidatos do PSB no estado

Por Pedro Muxfeldt

Na segunda entrevista da série Eleições nos Estados, o Trocando Ideia vai analisar o cenário para o pleito em Pernambuco. Reduto eleitoral de Eduardo Campos, falecido em 13 de agosto, o estado viu o crescimento dos candidatos do PSB Paulo Câmara, Fernando Bezerra e Marina Silva após a morte do ex-governador.

Na conversa de hoje, o cientista político Michel Zaidan Filho, coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia da UFPE e autor do livro ‘A honra do Imperador’, sobre o governo Eduardo Campos, também comenta o possível esfarelamento do PSDB no país com a ausência de Aécio Neves no segundo turno e as altas intenções de voto de Marina Silva. Confira a entrevista a seguir.

Armando Monteiro Neto (PTB) foi ultrapassado por Paulo Câmara (PSB) desde a morte de Eduardo Campos. Foi apenas a comoção pelo falecimento do ex-governador que inverteu as perspectivas no estado?

A eleição foi totalmente modificada com a morte de Campos. Ele tinha intenções de voto baixas e isso se refletia no desempenho de seus candidatos. O panorama não ia mudar, caminhávamos para vitória de Armando. A morte mudou tudo porque ela foi transformada num ato político apoiado pela mídia e sobre o qual a Justiça Eleitoral fez vistas grossas. Assim, uma pessoa com 10% de votos se tornou um santo milagroso e isso coloca o candidato governista com boas chances de ser eleito no 1º turno.

Ainda existe algo que o candidato de oposição possa fazer para reverter este quadro?

Acredito que não. Não vejo fato novo que seja capaz de alavancar uma subida dele nessa última semana de eleição. Nem mesmo a presença do ex-presidente Lula na campanha. Armando é um usineiro que fez carreira na Fiepe e na CNI, representa aquele empresariado mais conservador que nós temos, não tem força junto aos setores populares da sociedade.

Na disputa pelo Senado, Fernando Bezerra Coelho (PSB) não conseguiu ultrapassar João Paulo (PT). Nesta briga, a virada do candidato de Marina Silva também pode ocorrer?

Não acredito que isso aconteça na disputa. Ali, João Paulo vai ganhar. Ele é muito conhecido, foi um bom gestor quando comandou Recife e tem carisma. Fernando Bezerra, por outro lado, é de família tradicional e tem uma votação muito regionalizada no Sertão.

Nas presidenciais, Marina, quando assumiu o lugar de Campos, alcançou intenções de voto altíssimas no estado. Ao longo do tempo, porém, foi caindo e Dilma já virou. O que aconteceu?

Além do ajustamento natural que Marina já sofreria após o ganho de votos via comoção por Campos, a campanha de Dilma foi muito eficiente em colocar em xeque algumas políticas centrais propostas por Marina, diminuindo os efeitos de seu crescimento.

Aécio tem intenções de voto de candidato nanico em Pernambuco e em todo Nordeste. Esse desempenho é uma mostra de que o PSDB tem perdido sua força nacional?

O PSDB nunca teve implantação fora do Sul-Sudeste. Com Eduardo, Aécio ainda costurou uma aliança branca que lhe garantiu alguns votos na região, mas esse processo estancou com a morte do ex-governador. A quarta derrota nas presidenciais vai selar o destino do partido. Ele não tem renovação, não traz nada de novo e vai precisar construir novos quadros para reaparecer. Além disso, o PSDB perdeu muito com a entrada de Marina na disputa, pois ela encarnou o sentimento anti-Dilma por excelência e cresceu em cima do eleitorado tucano.

Por que a insatisfação geral com os políticos, reflexo das manifestações de junho de 2013, não colou na figura de Marina Silva, vista como representante da nova política?

Ela conseguiu isso por não ser identificada com os partidos políticos tradicionais e acabou se tornando a cara do sentimento antipolítico. Esse é o grande perigo, pois ela construiu uma imagem de Messias, mistificada, enquanto, por outro lado, é bastante conservadora, obscurantista sob alguns aspectos e não tem programa econômico, simplesmente copia o dos outros.

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