Eurico Miranda e a elite que pediu voto censitário

Volta de Eurico mostra o mal de um processo não democrático

Por Pedro Muxfeldt

Após seis anos afastado, Eurico Miranda está de volta ao Vasco. Eleito com mais de 50% dos votos, o ex-presidente irá comandar o clube carioca até 2017. Sua vitória, tenebrosa para o futebol brasileiro em geral e especialmente para o Vasco, nos ajuda a compreender o mal que faria uma das ideias mais reacionárias e elitistas que se ouviu durante a campanha presidencial do país: o voto censitário.

Revoltadas com a votação massiva de Dilma no Norte e Nordeste e principalmente entre eleitores mais pobres, algumas pessoas contrárias à reeleição da petista - e demonstrando profundo desapreço pela democracia tão duramente conquistada no país - passaram a defender que somente para aqueles em uma determinada faixa de renda fosse concedido o direito de votar.

O sistema abjeto e anacrônico, abolido na Constituição de 1891, não se reproduz nos pleitos de São Januário, mas, assim como em todos os demais clubes de futebol do país, o presidente vascaíno é definido por parcela exígua da torcida. Nesta terça, pouco mais de 5 mil sócios - algo em torno de 0,05% dos cruz-maltinos - participaram do momento político mais importante do clube.

A eleição de Eurico é a mostra do mal que círculos restritos de eleitores podem fazer. Sócios endinheirados e aboletados há décadas nos conselhos vascaínos buscam garantir seu naco de poder sem abrir espaço para o conjunto da torcida, representação muito mais plural do que o grupo de associados, se expressar.

A mesma lógica vale para o Brasil. Quem defende voto censitário como forma de evitar supostas escolhas inconscientes e danosas da população menos escolarizada esconde que seu objetivo é, na verdade, manter os privilégios que sempre teve e impedir que as oportunidades cheguem para todos.

Ao contrário do que essa gente pensa, o que aumenta a conscientização do povo é o alargamento a democracia, não seu constrangimento. Só assim que é possível evitar vitórias dos Euricos e Aécios que se espalham por aí.

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