O outro 7 x 1 que o futebol brasileiro precisa enfrentar

Geração perdida é um 7 x 1 mais doído que o imposto pela Alemanha

Por Bruno Cavalieri

Adriano Imperador, às vésperas de nova tentativa de retomar a carreira, foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro por associação ao tráfico de drogas. O (ex) atacante é apenas mais uma perda de uma rara geração multitalentosa, que, paradoxalmente, foi acabando com o sucesso.

Viajemos, então, no tempo: meados de 2005. No ano anterior, havia quatro brasileiros na eleição dos dez melhores do mundo: Ronaldinho (1º), Adriano (6º), Ronaldo (7º) e Kaká (10º). Com exceção do Fenômeno, todos tinham idade para jogar a Copa no Brasil: o Dentuço, o Imperador e o Príncipe de Milão teriam, respectivamente, 34, 32 e 32 anos. O último ainda teria um casamento acabado, mas isso não vem ao caso. 

São três idades bastante razoáveis. Além disso, o estilo e posição em que eles atuam aumentavam a possibilidade de jogarem em alto nível por mais tempo. Era impossível cravar o que aconteceria com os três durante esse tempo. Esse 7 x 1, que a gente não sente, dói mais do que o outro. Esse é crônico. O Brasil perde para si mesmo, pela falta de profissionalização do futebol.

Num cenário razoável, o Brasil poderia contar com pelo menos dois deles em 2014. Imaginem a seguinte escalação, colocando apenas jogadores que sejam consideravelmente superiores em relação aos titulares, sem fazer outras alterações: Bruno, Daniel Alves (Maicon), Thiago Silva, David Luiz, Marcelo, Luiz Gustavo, Fernandinho, Oscar, Ronaldinho, Neymar e Adriano.

É impossível cravar qualquer resultado. Esse time, no entanto, tem muito mais poder de decisão do que o inoperante Brasil de 2014. Craques consagrados e experientes teriam a companhia de novos talentos na parte da frente.

A parte defensiva, que já é uma das melhores do mundo, contaria com o reforço do goleiro Bruno. Qualidade técnica para orgulhar o brasileiro, na segunda tentativa de título mundial jogando em casa, haveria de sobra.

Sabemos que a história não foi essa. Sem ter quem dividisse a responsabilidade com Neymar, levamos o maior vexame de nossa história.

O Brasil cria e destrói craques com facilidade impressionante. As federações não tratam o futebol com seriedade, então, por que os jogadores o fariam? O atleta brasileiro, outrora desejado por todo técnico de futebol, está desvalorizado. 

No meio deste ano, o técnico do Shakhtar, Mircea Lucescu, afirmou que os jogadores brasileiros são frequentemente criticados por outros treinadores: "Dizem que é difícil manter mais do que dois na mesma equipe. Não é nada fácil trabalhar com eles. Eles são tão talentosos quanto confiantes em seus instintos para tomar decisões. E acabam tomando muitas vezes decisões sem pensar. Por isso é que nós, os que convivem com eles, temos a obrigação de ajudá-los a se comportarem profissionalmente". Este trecho da entrevista, veiculada no Globoesporte.com, ilustra o atraso daqueles que gerem o nosso futebol.

Este é o 7 x 1 que precisamos nos preocupar. A valorização do jogador brasileiro depende da valorização do futebol brasileiro. O presidente da CBF, José Maria Marín, escolheu Gilmar Rinaldi para liderar esse processo. Com isso, agora precisamos reverter um 8 x 1.

Acompanhe o Trocando Ideia também no Facebook.

Nenhum comentário:

Postar um comentário