O que fazer depois da escolha de Kátia Abreu?

Com ruralista na Agricultura, esquerda precisa disputar espaços com aliados

Por Pedro Muxfeldt

A provável escolha da senadora Kátia Abreu para o cargo de ministra da Agricultura suscitou reações de repulsa por parte de muitos petistas e apoiadores da reeleição de Dilma. É evidente que a nomeação, a ser confirmada nesta semana, é péssima e merece críticas veementes, mas não se pode perder de vista dois pontos-chave no desenrolar desta história.


Primeiro, o governo de coalização engendrado pelo PT desde 2003 vai sempre produzir monstros como Kátia Abreu. Romper em definitivo com PMDB e demais partidos fisiológicos de centro-direita só é factível caso a bancada de esquerda no Congresso crescesse com vigor. Porém, quem aumenta de tamanho há anos é a direita e o centrão e uma separação poderia deixar o governo de mãos atadas no próximo mandato.

Além disso, Kátia Abreu é apenas a cara mais conhecida de um agronegócio instalado no Ministério da Agricultura das gestões petistas desde o início. A ação não é novidade e, em parte, é esperada, tendo em vista que a pasta tem como atribuições "a gestão de políticas públicas para a agropecuária e o fomento ao agronegócio", conforme aponta o próprio site do ministério.

Aqui entra o segundo ponto-chave da questão. Ao unir seu caráter de esquerda popular com membros da centro-direita, o PT coloca o governo e seus ministérios em disputa. É preciso, desta maneira, que a esquerda batalhe, no seio do comando, por espaço, políticas e prioridades.

Na questão específica do setor agrário, o primeiro passo para barrar as investidas contra os movimentos por terra e pequenos agricultores que virão de Kátia Abreu é buscar o fortalecimento de órgãos que serviriam de contraponto às ações da Agricultura.

Deve-se lutar por um Ministério do Desenvolvimento Agrário mais robusto na atenção à agricultura familiar, um Incra ativo na demarcação de terras para a reforma agrária, estagnada no governo Dilma, e um Ministério do Meio Ambiente firme na defesa de um desenvolvimento sustentável.

Espernear contra o mau passo do governo - que estão no plural com possíveis nomeações em outras áreas - é justo, mas não basta nem tem poder transformador. Após o avanço conservador e a união das esquerdas na campanha eleitoral, o governo Dilma, mais do que nunca, está em disputa.

Mais que reclamar, é necessário baixar à arena e brigar por cada centímetro dele, pois os erros estão na mesa, mas os acertos virão apenas com as ações da esquerda, na indicação de bons nomes e, principalmente, promoção de políticas públicas que garantam os avanços obtidos até aqui e produzam ainda mais oportunidades e igualdade no país.

Acompanhe o Trocando Ideia também no Facebook.

Nenhum comentário:

Postar um comentário