O relato de um tricolor órfão

Quinze anos que valeram uma vida para o torcedor do Fluminense
Por Víctor Luiz Silva

Pensei em me abster sobre ontem, mas é impossível ignorar um relacionamento que durou 15 anos. Era 26 de novembro de 2000, quando fui pela primeira vez ao Maracanã. Fluminense x São Caetano, oitavas de final da Taça João Havelange. Ademar, aos 27 do segundo tempo, de falta. Para os que acreditam que a primeira impressão é a que fica, poderia ser um péssimo começo.


O casamento começou em 99, na tão lembrada série C. A primeira ‘dívida’ foi logo no primeiro ano de casa. Em 2002, no Centenário, um Carioca para não passar o ano de comemorações em cinza e branco.


Três anos depois, título estadual sobre o Volta Redonda depois de uma goleada sobre o Fla na Taça Rio, vice da Copa do Brasil para o Paulista – que havia batido o badalado Cruzeiro de Fred nas semis. Na Sul-Americana, caiu para a Universidad Católica nas quartas. No ano seguinte, adeus à Copa do Brasil pelo Vasco, na semifinal. Fugiria do rebaixamento no Brasileirão.

2007, talvez o grande começo. Depois de um pífio estadual, Campeão da Copa do Brasil sobre o Figueira dentro do Orlando Scarpelli e o retorno à Taça Libertadores da América depois de 23 anos. No Brasileirão, um quarto lugar humilde, dando ‘duas vagas’ para o torneio continental do ano seguinte.

A partir de então, o Fluminense não sairia mais da mídia. Melhor campanha na primeira fase, com direito a goleada de 6x0 no retorno ao Maracanã. São Paulo, Boca, milagres atrás de milagres. Apesar de tudo, a Libertadores não Deixou de ser Utopia. O queridinho Renato que ia ‘brincar no Brasileiro’ terminou em décimo quarto e garantiu vaga para a Sula de novo.

Começou 2009 bambeando, mesmo com a chegada de Fred. Caiu nas semifinais dos dois turnos do Carioca, quartas da Copa do Brasil e chegou até a final da Sul-Americana. Com a guerra após o jogo contra o Cerro Porteño, no Maracanã, o ‘Time de Guerreiros’ foi goleado em Quito e o título ficou Longe De... Desta vez ficamos com 2/3 do trocadilho, só para mostrar o tamanho do drama que a LDU veio a ser para o Flu.

Honrando o apoio da torcida, uma arrancada histórica que começou contra o Galo no Maraca, passou por Cruzeiro, Palmeiras, Furacão, Sport, Vitória até o Couto Pereira. No dia 6 de dezembro, desbancamos os matemáticos.

No dia 22 de agosto de 2010, estava presente no empate contra o Vasco para ver um dos meus maiores ídolos do futebol vestir a camisa do meu time de coração pela primeira vez. Talvez, para mim, o maior investimento já feito pela Unimed. Anderson Luís de Souza, o eterno camisa 20 perdeu um gol embaixo da trave na sua estreia. Mais um ano de quase? Deco, Conca, Belleti, Fred e cia. Quissá o maior elenco que o Flu teve até então. Presente de novo contra o Bugre, o cruzamento foi do Carlinhos, o desvio do Chitão e o gol do Sheik. “De 99% rebaixado a 100% campeão”.

No ano seguinte, continuaríamos na disputa até a penúltima rodada. A derrota para o Vasco deu mais um vice aos cruzmaltinos e nos deixou em terceiro, com mais uma vaga para a Liberta. Um fim de ano não tão ruim para quem havia saído nas oitavas do continental para o Libertad.

Título brasileiro de 2012 levou milhares às Laranjeiras
Ano par, ano de título? Campeão Carioca goleando o Botafogo, tropeço nas quartas da Libertadores em um jogo inacreditável contra o Boca. No Brasileirão, passos largos, título com quatro rodadas de antecedência sobre o Palmeiras, em Barueri e lá estávamos nas Laranjeiras. Grandes amigos que esperaram até quase três da manhã esperando o time chegar... Festa, muita festa! 2012 foi simplesmente indescritível.

Do céu ao inferno. Começava a queda. De novo o Goiás tirou a gente de um mata-mata, dessa vez eram as oitavas da Copa do Brasil. Na Liberta, uma derrota inacreditável para o Olimpia. No Brasileirão, choro, desespero, contas e mais contas. Se há quatro anos havíamos batido 99% dos matemáticos, esse ano batemos os 100! Tapetão a parte, quem checar a tabela pode conferir que não fomos os primeiros acima da zona da degola. Aos rivais, mais uma ‘dívida’.

O último ano começou morno, bem morno. Nada no Carioca. No elenco, Conca de volta, Cavalieri, Carlinhos, Jean, Wagner, Sóbis, Waltinho e o velho Fred. Mais tarde, Cícero ainda chegaria para ajudar  no baile que o Fluminense deu nos primeiros jogos após a Copa. Era quase 70% de posse de bola, um 3x0 fácil contra o Atlético-PR. Ano par, ano de título? Vexame contra o América de Natal de Pimpão e companhia e o discurso de que queríamos a vaga da Sul-Americana. 

Mais uma vez o Goiás nos deixaria de fora, ainda na fase nacional do torneio.
O passeio no Brasileiro ficou por aí, só passeio mesmo. Depois de nadar e nadar, um frustrante sexto lugar. O camisa 9, afilhado do casal FlUnimed, foi contestado pelos brasileiros na Copa e mostrou que o Tricolor é a sua casa, sendo artilheiro do Campeonato.

Os rumores começaram com o baixo rendimento de Fred na Seleção (?). Obviamente pioraria com a queda na Copa do Brasil. E ficaram mais fortes ainda com a eliminação na Sula. Não faltaria assunto para Peter e Celso.

Chegou o dia que todos (os rivais) esperavam.

Se ele quer ir, que vá! Peter não é bobo, deixou ir para que possa ‘superar as dificuldades do mercado de saúde’. As cartas na manga já começaram a surgir. Viton 44, aquele mesmo Guaraviton do Bota, já assinou. Siemsen estava muito tranquilo para não ter uma alternativa tão rápida. R$ 14 milhões já estão garantidos.

Se a nova camisa vai ser como uma página de Classificados, eu não sei. Sinceramente, torço para que seja. Estilo um macacão de pilotos de automobilismo. Contanto que o presidente seja o do Flu, pode vir quem for. E que seja feita a tal reestruturação, aguardada desde 2008 e maquiada com os títulos dos anos pares.

‘Nasci’ um ano depois do casamento. Quatorze anos depois, vejo a separação. Confesso que fico órfão da mãe que a Unimed era nesse relacionamento, mas é um mal necessário. O Fluminense é muito maior que o segundo melhor plano de saúde.

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