Os complôs contra Felipão

Treinador lança suspeita de complô sempre que trabalho vai mal

Por Bruno Cavalieri

Após a derrota para o Corinthians, no último domingo, o técnico Luiz Felipe Scolari insinuou a existência de um complô contra o Grêmio. Segundo ele, "não é interessante para o futebol brasileiro ter dois clubes do Sul e dois de Minas. É bom ter um de São Paulo e, quem sabe, um do Sul".


A atitude não é novidade na carreira do treinador. Em 2011, quando comandava o Palmeiras, Felipão não aceitou a derrota na semifinal do Campeonato Paulista para o Corinthians. Ele disse que a equipe rival pôde escolher um árbitro que tem "um dossiê de erros" contra o Verdão.

No mesmo ano, após perder por 2 a 1 para o Atlético Mineiro num jogo do Campeonato Brasileiro, o gaúcho afirmou que estavam "ganhando de sua equipe fora de campo".

Na Copa do Mundo de 2014, Scolari voltou a tirar os problemas de seus comandados de dentro de campo. Matéria do Estadão revelou apelo do ex-técnico da seleção a alguns jornalistas: "Vocês precisam dizer que a Fifa está com má vontade com o Brasil. Não interessa a ela, nem para o negócio futebol, o Brasil levar a sexta Copa do Mundo".

Ao fugir repetidamente da responsabilidade, Felipão atesta seu próprio desespero. Não há complô - nem carta enviada pela Dona Lúcia - que justifique o fraquíssimo rendimento da seleção brasileira no Mundial. O 7 x 1 escancarou graves erros de escolha do técnico, ofuscados em 2013 pela brilhante Copa das Confederações, quando o time funcionou perfeitamente e nos deu a falsa impressão de que tudo caminhava a contento. 

O treinador apostou no sucesso do mesmo grupo, mesmo com muitos jogadores em baixa. Poderia ter dado certo, mas deu muito errado. O imponderável talvez seja o maior charme do futebol. Não cabe a um renomado comandante insinuar complôs. É mais digno assumir que, nem sempre, as escolhas são acertadas e reconhecer as derrotas. Felipão mancha a vitoriosa carreira a cada entrevista desesperada que dá.



Imaginemos, então, o que poderia pensar Pep Guardiola. Campeão de tudo pelo Barcelona, o período em que esteve sem clube coincidiu com a demissão de Mano Menezes da seleção. À imprensa brasileira, o espanhol admitiu que aceitaria uma proposta da CBF, pois tinha como sonho comandar o Brasil.

José Maria Marín, no entanto, escolheu Felipão, recém-demitido do Palmeiras, deixado na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Na apresentação, o mandatário respondeu aos clamores pelo espanhol e, segurando os braços do treinador e de Parreira, também de volta ao escrete canarinho, afirmou que "precisamos dar valor aos nossos patriotas".

Evidentemente, Scolari não se queixou da surpreendente oportunidade que recebeu, fruto de seu amor à bandeira. Não insinuou complôs. Agora, se faz de vítima de responsabilidades que lhe são atribuídas. Melhor parar por aqui antes que chegue uma carta da Dona Lúcia ao Trocando Ideia.

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