Mais do que decisão humanitária, Cuba é aposta eleitoral de Obama

Obama está de olho na sucessão presidencial após acordo com Cuba
Por Bernardo Monteiro

Após um primeiro mandato repleto de desafios, mas que marcou a história da mais consolidada democracia no mundo, Barack Obama chega à metade do seu segundo mandato com muito mais críticas e problemas do que bons resultados a oferecer. É fato que de 2013 para cá a economia norte-americana melhorou, o sistema de imigração foi aperfeiçoado e os benefícios trazidos pelo Medicaid, maior de programa de saúde pública da história do país, que custou mais de US$ 1 trilhão aos cofres públicos, são inegáveis.


No entanto, tudo isto não bastou e o Partido Democrata perdeu força. São três os fatores principais: a retomada da guerra ao terror com o uso de drones (veículos aéreos não tripulados) com armamentos no Iraque, Afeganistão e, principalmente, no Paquistão, o que provocou grande questionamento internacional; o combate unilateral contra o terrorismo do Estado Islâmico; e o recente surgimento de revoltas populares contra a morte de negros por agentes brancos da lei - que foram inocentados.


Este conjunto de decisões políticas levaram à queda constante da popularidade de Obama e consequentemente dos democratas – vista com clareza na derrota nas eleições para o Congresso, onde o Partido Republicano retomou a maioria - gerando um quadro negativo para a permanência do atual partido no poder após a eleição presidencial de 2016. A Casa Branca vive talvez seu período mais inconstante e desafiador desde a chegada de seu 44ª morador em 2009.

No entanto, a salvação pode ter surgido de onde menos se esperava: a esquecida e inimiga ilha de Cuba. Em 1959, quando Fidel Castro e Che Guevara tomaram o poder com a Revolução Cubana, os Estados Unidos se viram diante de um pesadelo pós-Segunda Guerra Mundial, ao ver um país comunista ganhar força dentro de sua área de influência. O Estado cubano se tornou ator central durante boa parte da Guerra Fria e norteou diretamente a condução da política externa norte-americana. Por que então a salvação eleitoral dos democratas se encontraria em uma reviravolta nas relações diplomáticas com Cuba?

A opinião pública já critica há um bom tempo o embargo e a política externa de Obama com a ilha. Embora já tivessem ocorrido diversas demonstrações de uma postura mais flexível por parte do governo de Raul Castro com os países emergentes e outras economias - que não colocam o regime de governo na balança comercial - Washington se manteve resistente a qualquer abertura. A mudança de postura, que abrirá uma nova fase nas relações entre Estados Unidos e Cuba, pode fortalecer Obama e, com ele, o Partido Democrata.

Nesta balança eleitoral, a postura adotada pelos republicanos também será fundamental, uma vez que os dois nomes que surgem com força para serem os possíveis adversários de Hilary Clinton, Jeb Bush (irmão de George W. Bush) e Marco Rubio, têm suas raízes eleitorais no estado da Flórida, onde vive a maior concentração de cubanos no país.

Caso a oposição defina como linha de ação a reprovação do diálogo com Cuba, poderá perder os votos dos democratas indecisos e críticos de Obama (entre eles a populações negra, imigrante e feminina). No entanto, uma posição mais moderada e até mesmo favorável poderia dificultar a vida da ex-primeira dama em sua possível candidatura em 2016.

Se os Estados Unidos irão de fato iniciar um novo programa de relações comerciais com Cuba e irão colaborar com o crescimento econômico de Havana, somente o tempo dirá. Porém, esta mudança de postura vinda de onde menos se esperava pode ser capaz de manter o Partido Democrata no poder e levá-lo a mais uma vitória histórica, colocando a primeira mulher no Salão Oval.

Nenhum comentário:

Postar um comentário