Em entrevista exclusiva, Zico fala sobre falta de um camisa 10 no Brasil

Craque com a 10 da seleção, Zico aposta em Oscar, Ganso e Willian
Por Bruno Cavalieri

O Brasil sofre com a escassez de camisas 10. Para falar sobre o tema, o Trocando Ideia foi atrás de um dos maiores da história do futebol mundial na posição: Arthur Antunes Coimbra, o Zico.


Direto de Goa, na Índia, o maior ídolo da história do Flamengo, que preferiu não falar sobre o rubro-negro e CBF, também comentou o melhor desempenho de jogadores argentinos na Europa em relação aos brasileiros e o sucesso de muitos latino-americanos no futebol nacional.


O Galinho de Quintino ainda revelou que não tem a pretensão de ser técnico da seleção brasileira nem se vê de volta ao cargo de dirigente, posto que ocupou no Flamengo durante quatro meses de 2010. Confira a entrevista completa.

O Brasil parou de fabricar os camisas 10 com a mesma frequência de décadas atrás? Isso pode ter atrapalhado a seleção na última Copa?

Acho que sim. Não é um problema, mas, normalmente, os camisas 10 sempre foram referências nas seleções brasileiras do passado. Não necessariamente com bons camisas 10 vai ganhar. Mas muitos já representaram muito bem esta camisa e, sem dúvidas, o maior de todos foi o Pelé.

Algum jogador pode suprir essa necessidade atual? Oscar ou Ganso, por exemplo, estão preparados para assumir a camisa 10 da seleção?

São os jogadores que mais se aproximam dessas características. O Ganso nem tanto, pois joga mais atrás e não é um jogador de chegada, de decisão. O próprio Muricy vem exigindo muito dele nesse sentido, para ele não ser apenas passador, mas ser também finalizador. Tem o Oscar. O Willian pode jogar nessa posição também.

O Jogo das Estrelas deste ano, que você organiza, vai homenagear estrangeiros como Conca. Como você vê a presença bem sucedida desses jogadores no futebol nacional?

A gente não pode esquecer que os brasileiros ocuparam o espaço de outros jogadores em outros países. O Brasil tem camisa 10 que está lá fora, então, esse espaço foi ocupado. Sem essa saída, era praticamente impossível os jogadores de fora tomarem o lugar de algum brasileiro. Só feras como o Pedro Rocha, o Tévez e o Doval, que tem vaga em qualquer time do mundo.

Mas os jogadores brasileiros estão mais ausentes nos times de ponta europeus. Na seleção argentina, por outro lado, quase todos os meias e atacantes estão nos gigantes da Europa. Por que você acha que isso acontece?

Países de grande qualidade no futebol produzem gerações. A geração que a Argentina produziu foi muito boa. Por isso eles estão um pouco à frente do Brasil. Tanto é que eles foram vice-campeões mundiais.  

Qual camisa 10 foi inspiração para você?

O Dida, ídolo do Flamengo.

E o 10 que você mais gostou de ver jogar depois de se aposentar?

Messi.

Ele é o melhor jogador do mundo?

Eu nunca gostei desse negócio de melhor jogador do mundo, porque não se pode comparar atacante com meia ou zagueiro. Eu coloco o Neymar, o Cristiano Ronaldo, o Messi, o Iniesta...jogadores fantásticos que jogam em posições diferentes e que não podem ser comparados. 

Zico comanda o Goa FC, da Índia, desde setembro
É possível fazer alguma comparação do futebol brasileiro ao indiano?

É impossível. Aqui está sendo criada uma fórmula para desenvolver o esporte. Criaram uma liga, com grandes jogadores e técnicos e conseguiram uma atenção da mídia. A Copa do Mundo foi recorde de audiência. Os estádios têm tido sempre 40 mil, 50 mil de público. Mas o desenvolvimento ainda vai levar um tempo.

Quais os próximos passos desse desenvolvimento?

São duas ligas diferentes. A que eu disputo ainda não é oficializada pela federação asiática. Se chegarem a um acordo e fizerem uma liga só, eu acho que a coisa vai funcionar.  Aqui em Goa tem quatro times na liga da primeira divisão da federação. O meu time conta com jogadores de apenas um desses quatro times. Tem indiano bom de bola nos outros times, mas eles têm contrato e os clubes não liberaram. 

No Brasil, membros das classes mais baixas estão mais presentes no futebol. Existe algum tipo de segmentação parecida no futebol indiano?

A Índia é um país muito pobre. O pessoal aqui se esforça para poder ter uma sobrevida boa. A pobreza é maior do que uma classe média ou rica. Isso é um problema que afeta em todas as áreas. O atleta precisa de uma boa alimentação e, sem poder ter isso na casa dele, afeta dentro de campo. Hoje, alguns jogadores indianos recebem um tratamento de primeira linha. Quando eles voltarem para os seus times na liga de federação, vão encarar outra realidade.

Você pretende continuar na Índia por mais tempo? O seu contrato vai até quando?

Meu contrato vai até o dia 20 de dezembro. Eles já aventaram a possibilidade de renovar por dois anos, mas eu só trabalharia nos últimos quatro meses. Não é fácil ficar oito meses esperando para trabalhar. Ainda não defini com eles, mas terei o tempo suficiente para resolver.

Para finalizar, hoje você se vê apenas como técnico ou ainda pensa em ser dirigente?

Só técnico.

Um comentário: