Por que a indignação da esquerda com o ministério de Dilma?

Dilma montou ministério para não ser travada pelo Congresso
Por Pedro Muxfeldt

A montagem do ministério de Dilma ainda não terminou, mas a enxurrada de reações sobre a última leva de anúncios feitos pelo Planalto me força a comentar o resultado do jogo antes do seu final.

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Em artigo publicado na Carta Capital, Gilberto Maringoni afirma que as decisões de Dilma deixaram a direita perplexa e a esquerda indignada. Não há grandes explicações, mas o professor parece dizer que a perplexidade da direita seria fruto da percepção que Dilma faz o que eles fariam se tivessem sido eleitos. Deixemos a direita de lado.

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Por que a esquerda estaria indignada com o ministério de Dilma? Nomes como Kátia Abreu e Gilberto Kassab são de fato péssimos, mas seria ingenuidade pensar que não haveria escolhas a contestar dentre os 39 ministros.

Sem nunca ter tido maioria no Congresso e ver seu número de deputados cair seguidamente, o governo do PT sempre foi de composição e, nessa lógica, é preciso acomodar aliados nem sempre de esquerda ou progressistas em alguns ministérios.

Os exemplos são inúmeros desde 2003. Henrique Meirelles, Moreira Franco, Garibaldi Alves, Alfredo Nascimento e por aí vai. 

Portanto, se a formação de um ministério com quadros pouco ou nada ligados à esquerda não é novidade nas gestões petistas, repito: por que os partidos à esquerda do PT teriam se indignado?

Há ingenuidade política e falta de cautela nesse caldeirão de descontentamento. Havia esperança de que a vitória apertada fizesse o governo caminhar mais para a esquerda no segundo mandato.

Porém, o Congresso hostil que assume em 2015 precisa ser domado e essa foi a opção de Dilma. A paralisia que acometeu o segundo governo Obama nos últimos dois anos são a mostra do que uma maioria opositora na Câmara pode fazer, reprovando qualquer proposta do Executivo. Guinar à esquerda e ser travado pelo Congresso não é solução.

Acima de tudo, porém, está o açodamento da tal esquerda indignada. Pode-se depreender dessa postura a necessidade que grupos que escolheram Dilma para impedir a vitória de Aécio têm em se descolar rapidamente do governo. Para estes, bastava um motivo para abandonar o barco. E o PT deu vários.

Por outro lado, não faz sentido analisar os próximos quatro anos apenas por certas nomeações questionáveis. Por enquanto, há apenas símbolos - uns bons, outros ruins. O funcionamento dos ministérios e as decisões do governo é que trarão o saldo sobre o mandato de Dilma. O jogo nem começou e já tem gente querendo cravar seu resultado. Ingenuidade e pressa demais.

A questão central não é Kátia Abreu, Kassab ou Cid Gomes, mas como o país enfrenta a crise internacional, se o desemprego seguirá baixo, se a desiguldade social vai continuar diminuindo, se o governo terá peito para baixar os juros. Tudo isso se define nos próximos quatro anos, não antes do apito inicial.

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