O que Bolsonaro falou após ameaça de estupro mostra quem ele é

Bolsonaro, xenófobo e defensor do grande empresariado
Por Pedro Muxfeldt

O "eu só não te estupro porque você não merece" proferido por Bolsonaro contra a sua colega de Câmara Maria do Rosário deixou tão atônitos aqueles que ainda valorizam a pessoa humana e seus direitos que o restante do breve discurso inflamado do deputado fluminense pode ter passado despercebido pela maioria de nós.


Além de velha cantilena de afirmar que as gestões petistas são as mais corruptas da História e que os direitos humanos agem apenas na defesa de "bandidos, estrupradores, sequestradores, marginais e até corruptos", Bolsonaro expôs duas de suas facetas mais tenebrosas.


Primeiro, ao atacar a proposta analisada pelos presidentes da América Latina de abrir o espaço aéreo do subcontinente para a livre circulação de pessoas, aos moldes do que já acontece no Mercosul e na União Europeia, o ex-militar diz que a medida trará "a escória do mundo" para dentro do Brasil.

Essa escória, para Bolsonaro, são os cubanos, haitianos e iranianos, nacionalidades citadas no discurso. O nome disso é xenofobia, tática pra lá de usual entre representantes da extrema-direita em todo o mundo.

Em países europeus, especialmente na França, ela costuma vir acoplada à ideia de que os imigrantes roubam os trabalhos dos nativos, assolados pelo desemprego desde o início da crise internacional, em 2008. Já no Brasil, onde o emprego bate recordes consecutivos, a explicação é apenas a obtusidade anticomunista de quem não faz sequer ideia do que é o comunismo.

Na sequência, Bolsonaro escancarou sua outra característica marcante. Como já apontei em outros textos, o conservadorismo nos costumes sempre vem acompanhado do (neo)liberalismo nas opiniões econômicas. Com o deputado não é diferente.

Na sua fala, ele alerta que Dilma vai trazer de volta a CPMF, reajustar a tabela do Imposto de Renda e taxar as grandes fortunas. O que para muitos é quase um sonho dentro da política conciliatória do PT para Bolsonaro é a maior das maldades que virão do "regime comunista" brasileiro.

Em entrevista ao Zero Hora, ele ainda foi além. Assumindo-se defensor da propriedade privada, Bolsonaro afirmou que a legislação trabalhista e principalmente a licença-maternidade punem o empresário. Ele ainda completa que, por isso, é coerente mulheres receberam salários inferiores a homens.

Entendeu por que ontem a mídia pouco disse sobre o crime cometido pelo deputado? É porque, apesar de não ter coragem de falar os disparates ditos pelo incitador de estupro e xenófobo, a imprensa corre de mãos dadas com ele quando o assunto é defender os lucros de banqueiros e do grande empresariado nacional. A cassação de Bolsonaro é urgente e mais ainda a regulação dos meios.

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