Os irmãos do ministro (ou porque Kátia Abreu não é o maior problema)

Irmãos do ministro teriam se apropriado de terras da reforma agrária

Por Pedro Muxfeldt

A apresentação da nova equipe econômica ofuscou uma importante ação da Polícia Federal ontem, que prendeu 30 pessoas suspeitas de envolvimento em esquema de apropriação de terras reservadas para a reforma agrária. Na lista, figuram Odair e Milton Geller, irmãos do atual ministro da Agricultura, Neri Geller.


No momento em que setores da esquerda se debatem com a possibilidade de Dilma nomear a senadora Kátia Abreu, líder da bancada ruralista, para o cargo, a operação da PF mostra que a presidente da CNA está longe de ser o principal problema do governo (ou mesmo da pasta) para o segundo mandato.

Antes de mais nada porque o PT, desde 2003, cede o comando do ministério para o PMDB, que já indicou outros latifundiários - Neri é um deles - e apadrinhados políticos com pouca ou nenhuma experiência no campo em prol da velha (e quase inescapável) governabilidade. A medida, porém, não impediu, nos marcos do reformismo fraco petista, avanços importantes em renda e qualidade de vida do trabalhador rural, conforme mostrei em texto do início da semana.

Na verdade, o problema a ser atacado, tendo em vista que a nomeação de um João Pedro Stédile para o cargo é impossível dentro do pacto conservador firmado pelo PT, é muito mais estrutural que conjuntural. Se comprovadas as acusações da PF, membros da família de um ministro de Estado tomaram para si terras que deveriam ser destinadas a milhares de famílias camponesas pobres. Isto é o mais grave.

Dilma balizou sua campanha na geração de oportunidades e no combate à corrupção. Precisa agora cumprir a promessa e atuar com mão firme na prevenção do crime e punição àqueles que se locupletem da coisa pública, ferindo os interesses do povo.

Independente da presença ou não de Kátia Abreu, as ações de pessoas ligadas ao Ministério da Agricultura, bem como de todos os outros órgãos públicos, devem ser observadas com lupa nos próximos quatro anos para garantir que a prioridade da pasta seja o atendimento à população, sem desvios e benefício a terceiros.


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