Os fatos do ano no mundo e o que será deles em 2015

Putin, Obama e a volta da tensão entre Rússia e Estados Unidos
Por Pedro Muxfeldt

2014 foi ano de eleições acirradas e importantes, de uma crise interna que ganhou proporções mundiais e muita gente nas ruas de todo o mundo cobrando direitos e mais participação política.


Vamos aqui recordar dez momentos que marcaram o último que se encerra e, mais importante, projetar o que será deles em 2015.


Há eventos no Brasil, México, Ucrânia, Malásia, Espanha, Estados Unidos e Cuba. Confira aqui cada um deles.

A tensão Rússia-Estados Unidos

O problema começa em fevereiro na Praça Maidan, em Kiev, Ucrânia. Dez meses depois, a cisão entre oeste e leste na ex-república soviética e a escalada de tensão entre Rússia e Estados Unidos parece o motivo que faltava para lançar o mundo na Guerra Fria 2.0.

Em busca de reconquistar a força perdida por seu país, Putin vêm apoiando os rebeldes de Donetsk e Luhansk e já conseguiu a anexação da península da Crimeia. Por outro lado, os Estados Unidos com o apoio da União Europeia, aplicou seguidas rodadas de sanções a Moscou, que estão na raiz da crise cambial que o país vive atualmente.

Para 2015, a perspectiva é de intensificação da rivalidade conforme Putin deixou claro ao afirmar que o "Ocidente quer colocar o urso na gaiola". Para resistir, a Rússia deve usar suas reservas de gás, para angariar aliados entre os países da Europa Oriental e ameaçar as potências da UE, principalmente a Alemanha, com cortes. Além disso, a crise fez o Kremlin se aproximar da China, com acordo capazes de abalar o equilíbrio de forças na disputa com os EUA.

Pelo lado de Washington, a aposta é nas sanções, que estão sufocando o país de Putin, imerso na crise. Por outro lado, uma Rússia abalada também afeta os negócios da União Europeia e Obama precisa garantir a fidelidade dos gigantes do Velho Continente se pretende continuar investindo contra Moscou. Com tanto em pauta, o problema interno ucraniano vira apenas um detalhe e ainda está longe de ser resolvido.

Retomada das relações Cuba-EUA pegou a todos de surpresa

Reatamento das relações Cuba-Estados Unidos

Ninguém viu o grande acontecimento do ano se desenhar. Foram 18 meses de reuniões secretas até o anúncio no último dia 17. Após mais de meio século, Cuba e Estados Unidos voltarão a manter relações diplomáticas, com embaixadas e maior permissão para viagens e remessas de dinheiro entre os países. (veja a análise do blog sobre o reatamento).

E o próximo ano pode aprofundar o novo cenário que conclui o que muitos acreditam ser o último resquício da Guerra Fria. Em meados de 2015, a ilha de Fidel deve finalmente deixar a lista dos países patrocinadores do terrorismo, o que vai permitir às demais nações do globo negociar com Cuba sem temer represálias norte-americanas. Guantanamo deve ser a próxima medida executiva.

Além disso, o fim do embargo deve ser votado no Congresso e seu resultado pode alterar a disputa presidencial em 2016. A postura adotada pelos republicanos, maioria nas duas casas a partir de 2015, mostrará qual lado o partido vai escolher. Manter-se aferrado à comunidade cubano-americana tradicional da Flórida, que não quer ceder nada à Cuba, ou levantar o embargo e abrir-se para as novas gerações, que têm outra visão sobre as relações com a ilha caribenha.

Acordos firmados em Fortaleza são pontapé inicial da nova geopolítica

O encontro do BRICS em Fortaleza

Enquanto Mario Gotze dava o tetracampeonato do mundo para a Alemanha no Maracanã, os presidentes de Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul iniciam uma reunião histórica em Fortaleza. Linha de frente do novo arranjo de forças mundial, os Brics lançaram em julho as bases de acordos que pretendem subverter a predominância de Estados Unidos e Europa na geopolítica.

Entre outras ações, os quatro países anunciaram a criação de um Banco de Desenvolvimento, que irá financiar projetos de infraestrutura em nações em desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas, resposta do quarteto à inação dos Estados Unidos em alterar o modelo de governança do FMI e que vai garantir maior segurança financeira aos Brics.

Para 2015, a consolidação das duas instituições é fundamental, mas a escalada de tensão entre Rússia e Estados Unidos deve empurrar o grupo para declarações e ações ainda mais combativas contra a falta de disposição das potências tradicionais em abrir espaço para um mundo multipolar a partir do fortalecimento de órgãos, como o G20 e a Assembleia-Geral da ONU.

MTST dá uma aula de política às esquerdas nacionais

A relevância e as lições do MTST

Depois da participação massiva nos protestos e a luta pelo Plano Diretor de São Paulo em 2013, o MTST foi um dos protagonistas do cenário político nacional neste ano. Combinando ações vigorosas com abertura para negociar com os poderes instituídos, o movimento é uma lufada de ar fresco no conjunto das esquerdas no país.

E os resultados falam por si, especialmente na iniciativa do governo federal em aumentar o limite de casas construídas no Minha Casa, Minha Vida através da modalidade Entidades, onde os próprios movimentos tocam as obras.

Atualmente, Guilherme Boulos, à frente do MTST, organiza uma frente nacional de esquerda, reunindo partidos e movimentos, no que pode representar uma mudança nas combalidas relações entre diferentes correntes e uma ação conjunta para a árdua disputa com o conservadorismo que se avizinha a partir da próxima legislatura.

Imagem é a cara da direita intolerante
O avanço da extrema-direita

A eleição de Bolsonaro, Feliciano e muitos outros foi apenas a consequência eleitoral de um movimento que saiu da toca neste ano no Brasil: o discurso intelorante e preconceituoso, que se espalha por todo mundo. Sua figura mais clara é o jovem infrator preso a um poste no Rio de Janeiro por "justiceiros", muitos deles com passagem pela polícia.

Nas redes e na rua, o que se vê é um aumento considerável do número de pessoas defendendo justiçamentos, xingando ativistas dos direitos humanos e pedindo intervenção militar após a vitória de Dilma nas urnas.

O Congresso ultraconservador eleito pode fazer estragos a partir do ano que vem. Lobbies pela redução da maioridade penal e venda de armas tendem a ganhar força, assim como temas como a legalização da maconha e do aborto devem ir para a gaveta. A mobilização das esquerdas é caminho para barrar este avanço em 2015.

Pablo Iglesias comanda única experiência que deixou as ruas e virou partido

Ascensão do Podemos na Espanha

Em maio, o Podemos conquistou quatro assentos no Parlamento Europeu e, em novembro, apareceu na liderança das intenções de voto para as eleições de 2015, quando a Espanha vai às urnas em pleitos municipais e presidencial.

Fundado em janeiro sob a liderança do professor Pablo Iglesias, o partido foi o único que conseguiu transformar os protestos de rua que tomaram conta do mundo desde 2013 em ação política e serve de inspiração para outros grupos ao redor do planeta.

O ano que vem, porém, será decisivo e complicado. Os dois partidos tradicionais do país - PP e PSOE - devem iniciar ofensiva para bloquear o avanço do grupo e suas bases, atualmente desencantadas devem retornar às urnas para impedir a vitória do Podemos.

Por outro lado, o partido também não terá vida fácil internamente. Além de buscar alianças com outros movimentos de esquerda para as disputas nas cidades, Iglesias já sofre questionamentos internos com algumas alas afirmando que o Podemos se afasta das ruas com a centralização das decisões no comando central.

43 estudantes foram sequestrados por policiais no Sul do país
O Estado falido no México

Não foi a opção econômica neoliberal que levou o Estado mexicano à falência, mas a resposta do governo - ou falta dela - para a crise de segurança nos estados do Sul do país. Com cartéis de drogas tomando controle de Michoacán e Guerrero, a população formou milícias para combatê-los e, quando o governo resolveu trazer os grupos para a estrutura do Estado, a falência se deu.

Durante o ano, os grupos de justiceiros começaram a se acusar mutuamente de ligações com os cartéis e uma guerra sangrenta se instalou entre eles. Por fim, em setembro, 43 estudantes da cidade de Iguala desapareceram. Os responsáveis? Policiais que sequestraram os jovens e os entregaram aos chefe do cartel local, por quem foram incinerados.

Após inúmeros protestos por todo país e manifestantes ateando fogo na entrada da residência presidencial, o governo Peña Nieto precisa reconstruir um país esfacelado e sem confiança em suas autoridades. Desafio que a boa vontade da imprensa hegemônica com as escolhas econômicas do país não irá ajudar a resolver.

Jovem negro e policial branco: combinação explosiva nos EUA e Brasil

Os protestos nos Estados Unidos

Após o Occupy Wall Street em 2011, a população norte-americana voltou às ruas este ano. Desta vez, as manifestações foram motivadas pelos seguidos casos de assassinato de jovens negros por policiais brancos em diferentes cidades do país.

O símbolo de nação livre e repleta de oportunidades perde cada vez mais sentido e nem mesmo a eleição de um presidente negro conseguiu reduzir preconceitos e a seletividade das forças policiais na hora de puxar o gatilho.

Obama, constrangido pelo Congresso e com uma eleição à vista, já mexeu na lei de imigração e reatou com Cuba. Posições mais contundentes sobre a questão do negro, tanto no viés social quanto econômico, podem garantir votos aos democratas e, principalmente, apontar para uma nova política em um país que parece só atuar em prol de 1% da população.

Dilma, Tabaré Vazquez e Evo Morales: vitórias da esquerda na AL

Vitórias da esquerda na América Latina

Eleita em dezembro de 2013, Michele Bachelet inaugurou o novo ciclo de vitórias da esquerda latino-americana. Neste ano, Evo Morales, na Bolívia, Tabaré Vazquez, no Uruguai, e Dilma terão mais anos no comando para dar sequência ao projetos antineoliberais na região.

2015, contudo, não será facil. Na Argentina, Cristina Kirchner terá que encontrar algum nome para disputar a presidência num país lutando contra a crise econômica e uma classe média ansiosa por retomar o poder após dez anos.

A perda da Casa Rosada, porém, seria um golpe duro para a esquerda da América Latina. Por outro lado, uma vitória seria a senha de que os movimentos precisam aprofundar o processo de reformas para encarar de frente a direita, que tem demonstrado poder de reação nos últimos anos.

Sumiço de avião na Malásia gera suspeita de ação norte-americana

A queda do avião MH370

Em 8 de março, avião da Malaysia Airlines desapareceu nos céus durante o voo entre Kuala Lumpur e Pequim. O MH370, que transportava 239 pessoas, nunca mais foi encontrado e não deixou rastros. O sumiço causou comoção internacional, mas a queda de outro voo da companhia malaia na Ucrânia quatro meses depois fez boa parte da imprensa silenciar sobre o caso.

Porém, uma suspeita levantada nos últimos dias por Marc Dugain, presidente da francesa Proteus Airlines, pode mudar o rumo da história. Segundo ele, o avião teria sido abatido pelas Forças Armadas dos Estados Unidos que mantêm uma base militar no arquipélago de Diego Garcia, no Índico.

Segudo Dugain, a decisão teria sido motivada pelo temor de um ataque terrorista à base e os restos do avião foram ocultados pelas autoridades norte-americanas. Acusando a Rússia de derrubar um avião de passageiros na Ucrânia, Obama teria que dar muitas explicações sobre a morte de inocentes e a cortina de fumaça sobre o caso. Quem sabe o desaparecimento do avião da AirAsia no fim de semana reconduza o MH370 às manchetes?

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